Páginas

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Quando Morrer

 

Um dia,

talvez amanhã, quando morrer,

quero ser pó.

Pó fino espalhado no vento.

Quero sair como cheguei,

uma ideia sem esboço

que apenas (sobre)vive naqueles que amam.

Quero que aqueles que amei fiquem na certeza do amor que lhes votei.

Quero poucos,

apenas os que verdadeiramente foram amor,

aqueles que comigo partilharam os sorrisos e a dor.

E que sobre o corpo que foi meu, lavado, nu e branco, repouse apenas um pano,

um pano que oculte os olhos já cegos e os lábios sem cor,

e que sobre ele me deixes o teu ultimo beijo, AMOR

  

Fernanda Paixão, 03/11/2021




segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Peço

 

Peço ao vento, que por mim passa,  

que leve consigo as palavras que não consigo conter

e que sopre todas as mágoas que a vida fez questão de padecer

Peço à chuva, de gotas frias,

que lave as faces molhadas da água tinta de dor

e beije os olhos já secos, lívidos … sem cor

Peço à noite que se aproxima,

Escura, muda e cativa

Que seja meiga e me embale,

que ternamente me fale

todas as palavras de amor.

 

Fernanda Paixão, 2021.10.11




quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Sorriso

 

Às vezes pinto um sorriso;

qual rabisco a carvão

traçado no papel enrugado ou noutro que tenho à mão.

Não penso, desenho;

e quando acabo o sorriso

e vejo o quão imperfeito ficou,

não que o sorriso seja mau, ou que tenha acabado a vontade de sorrir,

apenas foi volátil, traçado num papel, a fingir.

Demoro o pensar na gente que passou

e na impressão que no meu eu macerou

rasgo o sorriso e o papel que manchou.

Arrumo os pinceis na caixa que voltarei a abrir.

 

Fernanda Paixão, 2021.10.07




domingo, 3 de outubro de 2021

Veloz

 

Passa veloz,

aquela nuvem no céu,

e a ave entre poisos,

ou o raio de luz que se quebra no mergulho no mar.

Passa depressa a alegria do sorriso que me fizeste traçar.

E porque tudo passa depressa, mesmo sem pressa de passar,

pergunto-me tantas vezes se vale a pena sonhar!?

 

Nesta existência feita de instantes,

em que encontro ambas as faces de um só desejo

relembro o errante e incerto caminho,

e o tempo gasto em dilemas gigantes,

dos quais desejo sair;

perder-me entre gente que não conheço, em ruas cheias de luz

ou correr sem direcção, pisando descalça as quentes do pedras  chão;

E saber que nada importa,

que tudo é um instante;

um o sopro, um fôlego ou o abraço apertado que te peço em surdina,

ou a lágrima que já não cai quando a alma dói.

Passa veloz,

a distância que se percorre a correr,

ou sonho incompleto na noite

e a palavra que te digo ao acordar,

será que vale a pena Sonhar?

 

Fernanda Paixão, 2021 – Out - 03