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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Um dia, Natal



Os filhos regressam
As casas ficam mais cheias
Paira no ar o cheiro das lareiras.
Pelas vidraças embaciadas
Percebem-se sorrisos soltos
Das crianças entusiasmadas;

A noite vai vestir-se de estrelas,
A lua enfeitar-se de prata,
No céu vão pintar-se aguarelas…
As bocas vão dizer as palavras mais belas!

Repartem-se nas mesas suculentos manjares
Fazem-se brindes e outros esgares
Trocam-se presentes e muitos afectos
O mundo vai fingir com actos concretos.

Do lado de fora, na rua tão fria
Sem nada a perder e com a mesa vazia
Estará gente triste com coração que ainda bate
Um rosto abatido num mundo à parte.


Fernanda Paixão
2011-12-22

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Ouvem-se Passos




Ouvem-se passos
Pesados marcados no caminho
Passos que se arrastam
e se agastam enquanto definho

Passos incertos, funestos
Marcas no tempo que o tempo imprime
Rasgos profundos
Sulco indelével do qual me fecundo

Ouvem-se passos
Já não estão distantes
Trazem as novas em sons vacilantes

Cadência perdida
Em sons tão presentes
Rasgam a alma que deixam em ferida

Ouvem-se passos
Cambaleantes, embriagados
Dos sonhos que tolhem nos necessitados

Ouvem-se passos
São uma ameaça
Passos de gente de alma devassa

Ouvem-se passos
De quem tem poder
De quem tudo pode sem nada temer

Ouvem-se passos
De gente disforme

By Fernanda Paixão
2011-12-08



sexta-feira, 25 de novembro de 2011

De mim? Digam o que quiserem.



De mim, digam o que quiserem
Blasfemem e gritem bem alto
Atirem calúnias infames
Praguejem, agitem os ditames 
Reúnam todos os conclaves
Tranquem a verdade com chaves
Espalhem veneno na ferida
Deixem a minha pela corrompida
Cravem a lança bem fundo
Procurem fazer-me sangrar
Sejam iguais a vós próprios
Ninguém vos pretende mudar
De mim, digam o que quiserem
Minha boca se calará
A verdade caminha sozinha
Um dia ela chegará

2011-11-25
By Fernanda Paixão

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

"Rir pode fazer rugas no rosto mas estica a pele da alma e do coração."

"Rir pode fazer rugas no rosto mas estica a pele da alma e do coração."



Adoro o sorriso, um Riso ... uma gargalhada.

sábado, 12 de novembro de 2011

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Baluarte


Sou parte de ti
A parte tão imperfeita
O minuto do teu querer
A sombra do teu ser
A parte feita rascunho
O risco feito pelo teu punho
O esboço traçado a carvão
Do qual apenas sobra o borrão
Sou a parte que soluça e chora
A que se anula e apavora
Sou a palma da tua mão
O bater do coração
Sou a súplica de apoio
Sou apenas o teu joio
Sou a parte que se parte
O fragmento da tua arte
Sou o teu porta-estandarte
És tu, o meu baluarte.


20111111
By Fernanda Paixão

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sou




Sou pouco,
Um nada feito de mim
Um vazio cor de marfim

Sou matéria
Éter volátil destinado a Morfeu
Nuvem sem água, um fogo que ardeu

Sou terra
Um pedaço de pedra a desfazer-se em pó
Linha traçada, corda desfiada sem dó

Sou electrão,
Talvez protão,
Sou carga eléctrica que se anula na fusão

Sou areia que entre os dedos se escapa
Sou a hera que sobe pela escarpa
Sou a mão que partilha os teus medos
Sou água que lava os segredos,
Sou a brisa que se elevar no ar
Sou um nada feito para te Amar.
By Fernanda Paixão
05-07 -2011

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Ás vezes



 




Às vezes,

Parecem tão longos os minutos das horas;

Parecem sombrios os raios de Sol

Parecem em brasa os caminhos da vida

Às vezes

Caem da alma gotas salgadas

Doem as mãos que se entregam e se dão

Arrastam-se os pés que, cansados, dizem que não, e

No silêncio da noite ouvimos queixumes

Os olhos pesados insistem fechar-se

Às vezes

Apenas o eco me recorda o viver

Apenas os teus olhos me aquecem o ser e

Quando em pranto desisto de estar

Amparas-me o corpo que se quer entregar

Às vezes

Quando a vontade é de desistir

De fugir para longe ou mesmo partir

De negar a presença à maldade humana

Ergues-me tu desta entrega mundana

Às vezes

Esqueço o dormir.

Às vezes,

Tantas vezes

Escondo o sofrer e a pele rasgada

Saro as feridas com água salgada

Aperto o espartilho do coração a bater e

Recolho o sangue que está verter

Às vezes

Elevo à força as ruínas de mim

Ascendo o mundo com trepadeiras jasmim

Voo no vazio esquecendo o sentir

Para conseguir voltar …. a sorrir

Ás vezes,

Tantas vezes …



By Fernanda Paixão


20110928

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Choro


Choro hoje
A vergonha dos homens
A maldade espelhada no rosto
A traição disfarçada no olhar
A agonia que trazem no peito
Choro hoje
A agonia de quem tem que lutar
A arrogância dos que teimam ganhar
A hipocrisia dos que se escondem para não opinar
Choro hoje
Choro porque transportas na mão
O frio, as armas, a desilusão
Choro
Choro porque sei,
que nada poderei …
mudar.

By Fernanda Paixão
20110720

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Letargia


Qual o desejo?

Qual o fluxo que te impele?
Qual a cor que reveste a tua pele?
Qual o bafo que te acalenta?
Qual a comida que te alimenta?

Quais as palavras ou alegorias
Quais as passadas que arrepias
Quais os  sorrisos que entristeces
Qual a força em que desfaleces?

Vejo o pendor do teu caminhar
A vontade de abnegar
Vejo a tua porta a fechar!

Não!
Não te quero na letargia
Na entrega a essa agonia
Vivendo em plena afonia
De quem se permite afogar

Não!
Não desistas lentamente
Hás-de lutar contra a corrente
Hás-de saber que és gente
Gente com sangue latente
E vontade de mudar!

By Fernanda Paixão
2011-08-29

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Sou pouco mais




Sou pouco mais que vento
Soprado numa bola de sabão
Um punhado de areia que te escapa pelos dedos da mão
Sou pouco mais que a cor
Pincelada na tela do artista
Sou como a espuma do mar que morre por mais que resista
Sou pouco mais que um sorriso
Rasgado num rosto humano
Sou como uma flor delicada que luta no solo ufano
Sou pouco mais que água
Que a ninguém irá pertencer
Um rio que corre para o mar para nele tornar a nascer
Sou pouco mais que letras
Que ninguém sabe entender
Sou como um livro aberto à espera de quem o saiba ler
Sou pouco mais que uma ideia
Que surge ao amanhecer
Sou como uma fantasia de quem se nega crescer
Sou pouco mais que neve
Uma lágrima corre na face
Sou como o silêncio da noite que aguarda que a luz o abrace
Sou pouco mais que nada
Sou apenas aquilo que sinto
Sou apenas uma mulher sensível no seu instinto
Sou apenas uma mulher
Sou sofrimento ou labirinto

By Fernanda Paixão
23/08/11

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Troveja




















Lá fora troveja
O barulho ensurdece
Gritam palavras que não quero ouvir
Fecho a janela ao mundo que nego existir.
Praguejam blasfémias,
Distorcem os sentidos
Ocultam a luz que se impõe num trovão
Rasga-se o céu e o silêncio da noite
Sussurram-se segredos
Conspiram-se acções
Transportam-se no peito tantas traições


By Fernanda Paixão
2011-08-25

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Caminho





Caminho
Esse tortuoso que nos embala o andar
Ou singelo que nos acelera o passar

Podemos escolhe-lo, desenhá-lo,
Decidir subi-lo, desce-lo ou simplesmente olhá-lo
Podemos enchê-lo de atalhos, cravar-lhe escarpar ou sulcar-lhe o chão
Podemos nega-lo, dizer-que que não

Ou podemos senti-lo, preenche-lo, dar-lhe um rumo
Salpicá-lo de cor, de cheiro e de aprumo

Podemos querer que não tenha fim
Desejar encontrar nele o Querubim

Ou podemos viver sem qualquer pretensão
Percorrendo o caminho em total comunhão
Sabendo que um dia o fim chegará
E de nós apenas a lembrança sobreviverá

By Fernanda Paixão
20-07-11

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Eis-me


Eis-me!
Nas horas tardias,
Baladas de silêncio.
As sombras que espreitam,
Os sons que furtivos se elevam.

Encontro-me
Nas horas tardias
No fugir da ideia
No lavar da alma.

Encontro-me
Nas horas tardias

Sentimentos,
Os que me prendem,
Os que me soltam e libertam.
Nas horas tardias
Vagueiam acordes perdidos de um canto qualquer
Ou passos incertos de quem se perdeu,
Ou certezas de quem, no sorriso, se encontrou.

Nas horas tardias,
Naquelas em que as letras se esfumam,
Os amantes se enlaçam,
Os trôpegos caem e, às vezes, nem sempre, se levantam
Nas horas em que se cozinham traições,
Se consumam paixões,
Se mutilam ilusões ou
Sse choram emoções
Eis-me,
Puxei da cadeira,
E agora?
Nas horas tardias
A lembrança dos que foram companheiros no silêncio da noite,
A volúpia do fumo quente do cigarro que, entre dedos caídos, se deixava arder
A cor da luz das horas, sem entardecer nem amanhecer
Os desvelos das palavras que a tinta impedia esquecer
Eis-me!
E agora?
Agora, continuo a sonhar,
A saborear os cheiros da noite, da terra molhada, do nascer da alvorada.
Eis-me!
E agora?
Agora nada!
Que a noite preenche o vazio,
Os recantos com sombras e véus,
Eis-me!

By Fernanda Paixão
2011-04-27

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Depois de Ti


Depois de ti o vazio da noite
A confissão às paredes despidas
Os fantasmas das vidas perdidas

Depois de ti o silêncio
O universo das bocas fechadas
As portas à chave trancadas

Depois de ti o abismo
O pecado de um alento velado
O sabor de um gosto queimado

Depois de ti o delírio
O desejo da cor da alvorada
O ensejo da pele rasgada

Depois de ti só o frio
O saber de uma vida apagada
A fala com a voz agastada

Depois de ti a quimera
A ilusão da existência sonhada
Depois de ti não há nada!

Depois de ti não há nada!

By Fernanda Paixão
2010-12-27

sexta-feira, 8 de abril de 2011

É de Branco


É de Branco que pinto os sonhos,
Outrora rabiscados de tantas cores;
É de linho que os envolvo
Antes abraçados a papel;
É com laçadas largas que os prendo
Libertando-lhes os nós apertados.
Hoje sonho com a calma do tempo,
Na calma que o tempo tem!
Já não corro no prazo do sonho
Com receio que o sonho se acabe.
Sonho em halos cadenciados,
Permitindo-me lentidões e silêncios.
Deixo espaços …
Espaços para que outros sonhos
Se permitam crescer e correr nos meus.
Deixo que o sonho caminhe, sem afogo,
Sem euforias ou devaneios.
As nuvens que acamam os meus sonhos
São agora suaves mantos de algodão,
…. Eufemismos de mim!


By Fernanda Paixão
06/04/2011

terça-feira, 29 de março de 2011

Não me Leias



Não me leias ou interpretes
Nem me perguntes quem sou
Não penses comigo
Nem acredites conhecer-me
Não me confundas nem persigas
Não me sei descodificar
Sei-me simples em complexas anisotropias
Sei-me pesada numa bola de sabão
Ou leve incapaz de sair do chão
Sei-me de todas as cores em total transparência
Sei-me doce com o ácido na pele
Sei-me fel com a boca feita mel
Não me leias
Não há letras que me escrevam
Nem palavras que me falem
Não me leias
Deixa-me percorrer as minhas linhas
Escrever-me com outras tintas
Deixa-me vaguear ilegal
Deixa-me ser irreal
Não me leias

By Fernanda Paixão
29.03.2011

sexta-feira, 25 de março de 2011

Gotas


Chovem gotas.
Gotas pequenas,
Chovem gotas apenas!
Chovem gotas.
Chovem gotas em compasso,
Chovem gotas no meu regaço!
Chovem gotas,
Chovem gotas de água pura,
Chovem gotas de candura!
Chovem gotas,
Gotas de água salgada,
Chovem gotas de uma alma abnegada!
Chovem gotas
Em torrentes de emoção
Chovem gotas repletas de comoção!
Chovem gotas cristalinas,
Chovem gotas dançarinas,
Chovem gotas que imaginas
Serem gotas clandestinas,
Serem gotas concubinas,
De um sentimento menor …
São gotas de líquido perfeito
Gotas para sempre meninas
Gotas feitas de endorfinas
Gotas de um amor insuspeito

By Fernanda Paixão
18/03/2011

segunda-feira, 21 de março de 2011

Sou tua


Preencho os silêncios
Com o desafogo da paixão.
Pinto a noite
Com as cores do teu sorriso.
Aqueço as minhas mãos
No calor do teu coração.
Abro a janela …
Invade-me o ar fresco da noite.
Agitam-se as folhas rasgadas caídas no chão,
Sussuram os ramos das árvores e
O doce aroma das flores que dormem rouba-me o respirar
Fecho os olhos
Deixo-me banhar pela luz de prata da feiticeira lua,
Deixo-me beijar pela brisa que flutua,
Deixo-me ir no sonho que deflua,
Deixo-me ir porque sei … sou tua.
Sou tua
Porque me preenches os silêncios sem palavras
Me pintas a noite sem aguarelas nem telas
Me aqueces com o calor do amor
Sou tua
Porque sou livre e na liberdade me prendo
e assim,
 a ti me rendo.


By Fernanda Paixão
17.03.2011