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sábado, 1 de março de 2025

Não vás


Quando eu morrer não vás a correr,

Não chores, não grites, nem te tão pouco tempo agites.

Não te enganes, faz o que sempre, tão bem, fizeste, 

aquele fingimento tão teu, tão inato, que engana o mais literato,


A tua roda de vida, falseada de etiqueta, corta laços de sangue como lâmina de baioneta.


Aquela ambição camuflada, aquela necessidade exaltada, de parecer sem ser, não a quero levar de ti quando morrer. 

Mantém a porta fechada, finge só mais uma vez, deixa-me partir em paz sem a tua falsidade voraz.


2025.02.22

Fernanda Paixão 


domingo, 3 de novembro de 2024

Estarei por aí






Um dia estarei por aí,

Perder-me-ei entre paredes caiadas de branco.

Olharei as portas e as janelas fechadas, adivinhando os cheiros e as cores que mantêm veladas.

Nem os passos que se cruzam com os meus me encontrarão.

Passarei leve, em silêncio, pesando as correntes do passado e deixarei correr, livres, as dores das máculas que a vida fez questão de escrever.

Serei eco das memórias guardadas que os ramos das árvores sacodem na tentativa de purgar a dor.

E as saudades serão as sombras do ontem que, agora doces, caminharão ao meu lado.

E quando, como brisa, fugir por aí, soprarei, livre, as palavras que um dia contive.

Um dia, estarei por aí 

2024/07/23

@ Fernanda Paixão

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Não Chores


Quando partir não chores,

Já não chorarei por ti.

Não eleves as qualidades que nunca reconheceste.

Mantem o silêncio e a postura de quem nada aportou à vida para além da dor.

Mantém o silêncio das mentiras que não soubeste calar.

Lembra-te, o "amor" não é  folia nem pudor, é sangue, luz e cor;

É o cheiro da manhã que assalta o  despertar; é sonhar acordado sem vontade de acordar.

"Amor" é sentir a dor que o outro sente e pintar-lhe um sorriso quando descrente.

Quando partir não chores.

Eu já não chorarei por ti e levarei aquilo que fizeste questão de me ofertar, seja dor ou seja Amor;

qualquer tipo de Amor;

qualquer tipo de dor.

Não chores por mim 


30.12.2023

Fernanda Paixão

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Como um rio


Sou como um rio, 

nunca constante, previsível ou vazio

Ou como o tempo, às vezes suave, às vezes intenso mas nunca tempestade, 

Sou de sorriso fácil, de lágrima no canto do olho e de coração nas mãos 

Sou translúcida, talvez até transparente

Às vezes sou uma ilha criada para sofrer,  uma montanha bem alta para gritar sem pudor ou praia de areia quente para partilhar amor.

E se o meu erro é amar, então morrerei de amor.

Fernanda Paixão 

2023.12.15

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Até um dia

 

Até um dia.

 

Aquela brisa que agita a poeira parada nos objectos imóveis,

que levanta o pó da terra dos caminhos calcados dos passos das gentes,

é também a que sopra as folhas, que mortas, se desprendem dos ramos que as ligavam à vida.

Aquela brisa que te fecha os olhos defendendo-os de padecer

é a que te leva ao choro provocado pela poeira que neles entrou.

E assim entre brisas e poeiras, num ciclo infinito impossível de entender, entre sorrir e sofrer unem-se o nascer e o morrer.

 

Até lá, vives nos meus pensamentos.

 

15/01/2021

Fernanda Paixão



quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Quando Morrer

 

Um dia,

talvez amanhã, quando morrer,

quero ser pó.

Pó fino espalhado no vento.

Quero sair como cheguei,

uma ideia sem esboço

que apenas (sobre)vive naqueles que amam.

Quero que aqueles que amei fiquem na certeza do amor que lhes votei.

Quero poucos,

apenas os que verdadeiramente foram amor,

aqueles que comigo partilharam os sorrisos e a dor.

E que sobre o corpo que foi meu, lavado, nu e branco, repouse apenas um pano,

um pano que oculte os olhos já cegos e os lábios sem cor,

e que sobre ele me deixes o teu ultimo beijo, AMOR

  

Fernanda Paixão, 03/11/2021




segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Peço

 

Peço ao vento, que por mim passa,  

que leve consigo as palavras que não consigo conter

e que sopre todas as mágoas que a vida fez questão de padecer

Peço à chuva, de gotas frias,

que lave as faces molhadas da água tinta de dor

e beije os olhos já secos, lívidos … sem cor

Peço à noite que se aproxima,

Escura, muda e cativa

Que seja meiga e me embale,

que ternamente me fale

todas as palavras de amor.

 

Fernanda Paixão, 2021.10.11