Corre-me a água debaixo dos
pés,
Pardacenta, quase barro
Agitada e barulhenta,
imparável; virulenta.
Carrega restos de bocas
abertas,
De ócio de mentes desertas
De palavras feitas fel, falsidades
cobertas de mel.
Corre-me a água debaixo dos
pés
Torrente que me arranca a
pele,
Deixo que corra.
Que siga por onde quer ir,
Que me fira, se tiver que
ferir.
Já não bracejo.
Não luto com fé,
Tento apenas manter-me de pé.
E se a maré tiver que subir,
Resta-me a ela não sucumbir.
Corre-me a água debaixo dos
pés
Leva com ela a fúria das
gentes
Transporta no leito, de sulco
profundo
As mãos agitadas do ímpio do
mundo
Corre-me a água debaixo dos
pés
Vai cega e sedenta pro seu
arraial
Arrasta com ela os corpos do
mal
Ceifando as vidas de gente
inocente
Por puro deleite, é-lhe
indiferente!
Corre-me a água debaixo dos
pés
Carrega com ela o vinho da
ira
O sangue dos corpos que o
falso carpira
Corre-me a água debaixo dos
pés,
Deixo que corra e que me fira
Resisto à maré que as pedras
revira
Corre-me a água debaixo dos
pés
Fernanda Paixão
07/05/2016