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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Mendigo



O seu pensamento é vazio
A sua vida incompleta.
O seu olhar é sombrio
E o seu corpo doentio.
O seu passo é incerto
O seu mundo um deserto.
A sua cama é de fel
Os seus lençóis são de papel.
A farpela foi-lhe dada
Maltrapilha e Aldrabada.

Ele vagueia errante
Num percurso inconstante.
E, se trôpego cai na calçada,
A custo retoma a passada.
E os seus olhos encovados,
Já sem cor e nostalgia,
Escondem o tremendo desgosto e
A falta de magia.
A vida passa-lhe ao lado
Nada lhe serve de consolo
Nada invade o seu mundo,
Feito de desconsolo,
Feito de nada e dor,
Feito de mágoa e ardor
Feito de raiva e despeito
Por todos os que como nós lhe faltam ao respeito
Descrente nos homens e em Deus,
Ele que foi esquecido pelos seus,
Espera agora indiferente
Perante os outros negligente
Que o mundo se vá fechando
E a vida se vá findando.


By Fernanda Paixão
2010-06-16

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Não sei de ti, Vida




Não sei de ti
Nem de mim
Nem do que será de nós
Não sei do hoje,
Nem do amanhã e o passado esqueci
Não sei dar-te
Nem receber-te
Não sei se te sei entender
Não sei olhar-te
Nem ignorar-te
Nem tão pouco imaginar-te

Sei-te vida agora entregue
Que ceifada me (te) vais (vou) ser
És mutante e inconstante
És bailarina ondulante
És cianeto e diamante
És aguilhão ou Paixão
És palavra por dizer!
Sei-te vida vagabunda que te perdes em perfídias
Que me levas e trazes vidas
E me fazes sorrir e sofrer!
Sei-me embriagada com teu canto
Tu que cativas com teu pranto
Qual musa, ninfa ou quebranto
E eu, trôpega, numa volúpia insuspeita sigo o rasto do teu manto
E me amarfanho ou abrilhanto, me transformo em crisanto


By Fernanda Paixão
20/09/2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Escrevo palavras






Aqui, olhar perdido na distância ao infinito
Torpor do corpo lânguido, caído
Aqui , entregue às palavras que o pensamento exige ditar
Alheia aos sons das falas que as gentes teimam gritar
Embalada na brisa e no som da ramagem
Escrevo as palavras sem qualquer camuflagem.
Escrevo palavras que quero dizer
Que quero que o mundo repita sem querer
Palavras idiotas, palavras tão sábias
Palavras sentidas, palavras sem lábias
Palavras soltas na aragem ….
Eu,
Tu,
Nós,
Paz,
Amor,
Verdade,
Doçura, Ternura, Candura

By Fernanda Paixão
20/09/2010

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Eu





Quem sou?
Perguntas e eu não sei responder
Onde vou?
Onde a vida me levar!
Onde estou
Onde não quero estar!
O que não digo ou prefiro calar
O que tolero para a vida ganhar…
Cobardia?
Talvez falta de ousadia…
Ou apenas utopia…

Estou cansada de lutar!
Estou cansada de sonhar!
Sonhar com a justiça,
Sonhar com a verdade sem cobiça!
Sonhar com a rectidão
Sonhar com tanta paixão!

Não suporto a mentira
Não suporto a hipocrisia,
Não suporto a subserviência
Nem a falta de consciência
Não suporto a indiferença
Nem a falta de presença
Dos que nos mandam calar
Dos que fingem que não vêem
Dos que sem mérito ou valor
Nos humilham sem pudor.

Não quero chorar sequer
Não vou unir-me nem fingir
Vou tão-somente ignorar e acabar por me rir
Dos que preencheram o coração com o peso da ambição!



By Fernanda Paixão
2010-06-16

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Goste de Ti




Deixa que goste de ti,
Que te dê um sorriso, que não tens que entregar!
Deixa que goste de ti,
Que te dê a mão,
Que chore contigo nos dias que parecem não acabar!
Deixa que goste de ti,
Que caminhe a teu lado,
Que percorra o caminho sentido o teu fado!
Deixa que goste de ti,
Que seja a sombra que te acompanha em silêncio,
E mesmo muda ou gritando o teu nome
Que goste de ti

By Fernanda Paixão
11/09/2011

domingo, 12 de setembro de 2010

Sonhadora





Hoje, tempo em que não sonho, parei!
Quis sentir quão verdadeira era a vida.
Era fria, crua, nua.
Era um vazio maior. Não o que imaginei!
Era uma tela pintada a cinzento,
Sem cor e sem alento!
Uma estátua desprovida de sentimento!
Olhei em redor…
Os olhos perscrutaram magia …
Nada! Apenas nada havia!
Assim, numa realidade sombria,
Deixando que a vida tolha ilusões
Que o mundo castre as paixões
Não sou eu…
Eu,
Sonho colorido,
Sonho sonhado,
Sonho acordado, despertado de uma vontade de nascer
Sonho entranhado … só assim sei viver.
Viver acreditando, às vezes dogmatizando
Mas sem nunca deixar de ser…
Eu!
Eu, sonhando! Sonhadora, portadora de ilusões,
Outra de muitas paixões, aquelas de me fazem dizer
É melhor sonhar e sofrer que apenas viver!

By Fernanda Paixão
11/09/2011

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Guardei Palavras






Guardei palavras
Escritas,
Faladas,
Lidas,
Declamadas,
As que me lembram-me de ti!

Guardei imagens
Impressas? Imaginadas?
As que me lembram de ti!

Guardei os sonhos, a ilusão,
Guardei toda a paixão
Que vivi, ou não
Mas que me lembram de ti

Guardei o fulgor de nós
Imprudentes
No limite do real

Guardei as palavras t(r)ocadas
Palavras simples (ir)reflectidas
Palavras loucas
Palavras que são parte de mim, de ti

By Fernanda Paixão
26/07/2010

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Luz Esparsa





Não tapes a luz esparsa e escassa
Que penetra e trespassa a escuridão do caminho
Deixa inundar a carcaça do teu ser
Solta o grito, larga a força
Rasga o elo da cadeia que te prende e aniquila
Lavra o trilho que percorres a correr
Sente o vento, sente a luz, sente a mão que te seduz
Sente o espírito, sente a arte, sente a dor que te invade
Sente o Amor que em ti Arde e … Reparte
Não tapes a luz esparsa e escassa
Abre os braços e abraça
A vida é para viver


By Fernanda Paixão
01-04-2009
(modificado 24-08-2010)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Dor




Não me perguntes porquê
Não tenho a resposta
Não adivinhes a tristeza
Transporto-a presa
Contenho-a para não a chorar
Numa dor sofrida de tanto a calar
Roem-me as entranhas, desdobram-se em prantos
Grita-me a alma pela injustiça humana
A mutilação do justo, a condenação do honesto
Penso muitas vezes que não presto
Será que o mundo perdeu os valores?
Olho pró lado e vejo horrores
Não me perguntes porquê,
Não tenho a resposta
A soberba e a ambição são agora os valores da geração
O homem transporta o gosto da humilhação
Piso descalça o trilho da vida
Ferem-me os pés, sangra-me a alma
É a ti que peço perdão
Abdiquei de lutar e entrei-me à comiseração

By Fernanda Paixão
25/08/2010