Páginas

terça-feira, 13 de junho de 2017

Um dia fujo



Um dia fujo
Fecho as cortinas do tempo
Caminho até ao pôr-do-sol
Ou até ao pó das estrelas e fico por lá
Salpico de brilho os meus olhos
E pestanejo lançando centelhas no ar
Um dia fujo
Finjo que não oiço a vida
E sorrio ao chamamento do sonho
Deixo-me ir ou simplesmente embalo-me
Nada será,
A linha da vida não cruza as ondas do caminho

Um dia fujo
Roubo o tempo ao tempo
E arrumo-o num canto esquecido
Deixo que se esbata, que se confunda na fuga do olhar
E, aquiescente, finjo que pairo no ar.

Um dia fujo
Dou-te a minha mão para que nela deposites a esperança
Levo-a comigo e, fujo

Fernanda Paixão

30-03-2017

quinta-feira, 30 de março de 2017

No forro do casaco





Escrevo palavras no forro do casaco
E escondo sonhos na algibeira
Corro
Refugio-me
Caminho na rua deserta cheia de gente
Cruzo-me contigo
Os olhos que se olham perscrutam segredos
Nem, tu nem eu nos detemos
Não detemos os corpos, nem os olhares
Apenas o roçar das mãos perpetuam o pensamento
Até um amanhã
Um nevoeiro do quiçá ou uma quimera que o tempo talhará.
Os passos percorrem como sempre o curso da vida
As palavras continuam presas no forro do casaco
Os sonhos guardados na algibeira.
E mesmo que me rasguem o forro do casaco
Nele resistirão as palavras presas com linhas de alinhavar
Sem nós, em ponto corrido para que as possa salvar

Fernanda Paixão

2017 03 29

sábado, 21 de janeiro de 2017

Fina fita estirada







Fina fita estirada

Residir num paralelo;
Numa fina fita estirada
da qual não há sombra ao luar.
Um fio riscado à mão
em antracite esmigalhado
na branca folha do destino.
Pende a vontade
nos passos oscilantes do andar.
Às vezes apetece parar.
E quando o corpo hesita,
na vertigem do caminho,
e a sombra da morte assola,
lacrada num ocre pergaminho;
A fina fita estirada, balança;
O pendão cheira a incenso
daquilo que pode ser.
É frágil, tão frágil, a fina fita
que, estreita, se agita num constante resignar,
num constante oscilar;
num constate cair para a seguir se levantar;
É fina, tão fina, a frágil fita
que nos força a volver a equilibrar.

Fernanda Paixão
14/07/2015