Escrevo palavras no forro do
casaco
E escondo sonhos na algibeira
Corro
Refugio-me
Caminho na rua deserta cheia de
gente
Cruzo-me contigo
Os olhos que se olham perscrutam
segredos
Nem, tu nem eu nos detemos
Não detemos os corpos, nem os
olhares
Apenas o roçar das mãos
perpetuam o pensamento
Até um amanhã
Um nevoeiro do quiçá ou uma
quimera que o tempo talhará.
Os passos percorrem como sempre
o curso da vida
As palavras continuam presas no
forro do casaco
Os sonhos guardados na
algibeira.
E mesmo que me rasguem o forro
do casaco
Nele resistirão as palavras
presas com linhas de alinhavar
Sem nós, em ponto corrido para
que as possa salvar
Fernanda Paixão
2017 03 29