Páginas

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Levo-te comigo


Levo-te comigo,
Não importa aonde, nem para onde
Levo-te comigo,
Num regaço de afectos
Num molho de sensações.
Levo-te comigo,
Estampado nos olhos,
Desenhado no corpo.
Levo-te comigo,
Apertado contra o peito na ilusão de te ter.
Levo-te comigo,
Escondido em recantos,
Ou pintado na alma.
Levo-te comigo
E mostro-te ao mundo.
Levo-te comigo
E não me importo de te partilhar.
Levo-te comigo,
Transporto-te onde sei que ninguém te irá roubar.
Tu sorriso tens o dom de te multiplicar…

By Fernanda Paixão
27-02-2011

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Indiferente


É passar distante da vida
Fantasiar existir sem viver
Ter cegueira adquirida,
Para fingir e não ver
Indiferente …
É estar em coma constante
Sentir a alma dormente
Possuir surdez selectiva
Não ver o sangue que jorra da ferida
Para não ter que sofrer
Indiferente ..
É cobardia infame                        
É doença ou vexame
É não sentir o nascer
É não chorar o perder, o sofrer ou o morrer!
É não sorrir no sorriso
É não amar o amor, uma criança ou uma flor!
É não se entregar de alma cheia
É não sentir o sangue na veia
É não ver o dia que clareia ou o luar da lua cheia!
Indiferente …
É não olhar nos olhos
É não beijar por ter medo
É não libertar o sonho
É a miséria não ver
É deixar a vida correr para não ter que a viver!
É perder a dignidade, o orgulho a liberdade!
É estar morto sem saber
É não preencher o vazio
É viver num mundo frio…

By Fernanda Paixão
19-02-2011

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Passo


Passo em passos largos,
Sobre as pedras da calçada;
Levo pintado no rosto
O sorriso do teu gosto!

Passo em passo apressado,
Cruzo gente no caminho;
Levo marcado no peito,
A leveza do teu carinho;

Passo de olhos brilhantes,
Em meu redor o vazio,
Levo colada na pele
Uma frescura que irradio!

Passo tão leve que flutuo
Os pés não tocam o chão
Levo na boca o teu doce
E nas mãos o coração!

Passo e sonho contigo
Lanço rasgos de alegria
Levo fechado no peito
O teu amor, a nossa magia!

By Fernanda Paixão
18-02-2011

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Posso Amar-te


Posso amar-te
Hoje,
Amanhã,
Ou depois.
Posso amar-te
Com a calma do verão,
Ou com a força de um vulcão.
Posso amar-te
Aqui,
Ou na distância do infinito.
Posso amar-te
Num sorriso,
Numa lágrima,
Ou num silêncio a dois.
Posso amar-te
Na solidão,
Ou no meio da multidão.
Posso amar-te constantemente
Amar-te intensamente
Posso amar-te em sofrimento
Ou em total contentamento.
Posso amar-te em surdina
Ou nas palavras que grito.
Posso amar-te sem sentires, ou ser a pele que vestires, o sorriso no teu rosto, o teu vinho e o teu gosto.
Posso ser a tua amante, o teu perfume, o teu picante, a tua bebida saciante.
Posso ser a feiticeira, a tua gata borralheira, a tua doce bebedeira…
Posso amar-te …
Encostar-me nos teus seios, saciar os teus devaneios e preencher-me de ti,   
Posso vestir-me dos teus cheiros, preencher os meus receios e
Amar-te simplesmente

By Fernanda Paixão
15-02-2011

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Agito-me



Agito-me,
Na vida que discorre!
Procuro-me,
Nos lamentos do dia!
Revolvo-me,
Nas baladas da noite!
Questiono-me,
Na partilha de ser!
.
Solto-me, abandono-me,
Lanço-me na procura de mim e …
No volver da maré procuro uma fé.
.
Escrevo palavras no vento,
Lanço sorrisos de espanto,
Grito em surdina as dores do meu pranto!
.
Traço horizontes verticais,
Limo as arestas e os cunhais,
Escrevo-te, deixo-te os meus sinais!

By Fernanda Paixão
08/02/2011

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Alvorada


No nascer da alvorada,
Acordo trémula, assim assustada.
Permaneço em silêncio, imobilizada.

No nascer da alvorada,
Sinto-me nua, pele molhada.
Deitada na areia, minha almofada.

Beija-me o mar,
Que o corpo me cobre.
E logo descobre e me soçobre.

De olhos fechados,
No som do infinito,
Perscruto o sonho em perfeito delito.

No nascer da alvorada,
Com o sol a aflorar,
Na minha pele branca começa a tocar.

No nascer da alvorada,
No rumor de cada onda,
Sinto o teu olhar, conclui que me esconda.

No nascer da alvorada,
Nas palavras tão poucas,
Sinto a tua mão, as carícias tão loucas.

No nascer da alvorada,
Nas sombras despertas,
Os silêncios falados, a alma que ofertas,

No nascer da alvorada,
No raiar de um suspiro,
Numa entrega de nós que contigo conspiro.

No nascer da alvorada,
Em perfeita inocência,
Trocamos olhares com tanta imprudência.

No nascer da alvorada,
A ti me revelo,
Na certeza do amor, que em ti eu anelo.

No nascer da alvorada,
Num beijo furtado,
Nas juras de amor, no sonhar acordado.

No nascer da Alvorada …


By Fernanda Paixão
05/02/2011

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Véspera de Natal



Era véspera de Natal. Na casa os cheiros, as cores e os sons demonstravam a quadra festiva.
Na sala de estar cintilavam pequenas luzes que preenchiam o ambiente outrora frio. Da árvore de Natal pendiam, além das luzes, fitas e bolas de cor vermelha e amarela, todas elas muito brilhantes.
O João, o mais pequeno da família, com os seus 4 anitos feitos há pouco tempo não conseguiu conter a emoção de saber que essa noite o Pai Natal passaria lá por casa e às 7h30 da manhã acordou fazendo com que, aos poucos, o resto da família seguisse o seu acordar. Primeiro foi a mãe, não que fosse essa a sua vontade, estava tão quentinha aninhada na cama, enrolada no endredon e no marido …, mas o pequeno João irrompeu pelo quarto com um boneco pelo braço gritando e pulando ao mesmo tempo “Mamã, papá, hoje o Pai Natal tás as Pendas! Acoda! Acoda!”. De seguida o João subiu para cima da cama e fez da barriga da mãe e do pai a sua cama elástica.
Para a Joana e para o António o acordar era mais fácil desde que o pequeno João começara a fazer estas visitas cheias de vitalidade ao quarto e as gargalhadas inundavam o ambiente.
Nos quartos do fundo do corredor, um em frente ao outro, dormiam os avós maternos e paternos que mal ouviram a agitação começaram a prepara-se para se levantar. No piso debaixo dormiam os tios e os primos que continuavam a dormir alheios à agitação do primeiro andar, agitação essa que rapidamente se transferiu para o andar debaixo na preparação do pequeno-almoço.
Pouco tempo depois a casa encheu-se de sons, risos, cores e alegria. A mesa do pequeno-almoço estava preparada e à sua volta começou a sentar-se toda a família. Os tios e os primos, a quem o pequeno João tinha feito o favor de visitar com a sua tagarelice e alegria transbordante, atravessaram o umbral da porta da cozinha correndo atrás do pirralho que ria de riso alegre e contagiante.
Na véspera de Natal era hábito lá em casa fazer-se uma série infinita de comida, entre doces e salgados, o que ocupava toda a família entre afazeres partilhados e conversas familiares. Nos momentos entre os exigentes afazeres culinários a família sentava-se à volta da mesa ou nos sofás, jogando jogos de tabuleiro, jogos de cartas, vendo fotografias, um filme na televisão ou ouvindo histórias de antigamente. Quando as histórias de antigamente eram as histórias das traquinices dos pais ou dos tios, contadas pelos avós, os mais pequenos redobravam a atenção.
Era também na véspera de Natal que se faziam as filhoses, um verdadeiro acontecimento! Entre o juntar dos ingredientes, o amassar da massa e o fritar das filhoses todos queriam participar e, verdade seja dita, havia tarefas para todos. Até o pequeno João participava fazendo bonecos com a massa das filhós que depois de fritos perdiam a forma original, mas todos os elogiavam efusivamente, mesmo que durante a fritura a cabeça ficasse maior que o corpo, a barriga inchasse fazendo lembrar o tio João ou todo ele se unisse parecendo uma bola com pernas.
Era tradição da casa que a família fosse, toda junta e bem agasalhada, à missa do Galo, e que o Pai Natal apenas passasse lá em casa depois da meia-noite. Assim perto das 23h30 estava a família toda junta à porta de casa, cada qual com o seu casacão bem quente, garruço, luvas e o indispensável cachecol. O João queria tanto que chegasse o pai Natal que insistia para que saíssem rapidamente pensando que quanto mais rápido saíssem mais rápido chegaria o Gordo barbudo vestido de vermelho. “Anda, sai. Vai pá rua. Core, core, abe a pota.”, repetia o pequeno João empurrando toda a família para a porta.
Mal abriram a porta para a rua foram “lambidos” por uma língua de ar gelado. O dia tinha estado efectivamente muito frio mas entre os muitos afazeres, o calor da lareira, do aquecimento, do fogão e do forno em constante funcionamento, e também do calor humano, nem se tinham apercebido que perto das 19h30 tinha começado a cair um nevão que tornara as ruas, as árvores e as casas num lindo postal branco. O João foi o primeiro a sair para a rua e a sofrer, de imediato, uma queda que o levou a rir a gargalhadas soltas e deixou a mãe com um aperto no peito. Verificada a integridade e a boa disposição do João a família aventurou-se, com pisadas cautelosas no manto frio e branco em direcção à Igreja. Pelo caminho foram entoando cânticos de Natal e partilhando a brincadeira propiciada pela alva neve, uma luta esporádica de bolas de neve.

Estavam a uns, talvez, cem metros da Igreja, já se ouvia o crepitar da madeira que ardia no madeiro, quando o João e os primos que seguiam adiantados dos restantes pararam repentinamente, em silêncio, olhando para um vulto que se encontrava encostado à parede, em cima do passeio.
Rapidamente a família se juntou apercebendo-se que o vulto era composto por imensos cartões sobre aquilo que pareciam ser uns velhos cobertores e que, por entre uma pequena fresta, se avistava o rabo de um cachorro.
A primeira reacção dos adultos foi pegar nas mãos das crianças puxando-as no sentido da igreja mas estas permaneceram presas ao lugar onde tinham parado e rapidamente se libertaram das mãos que as prendiam “atirando-se” sobre os cartões tentando verificar se o cachorro se encontraria bem. Mal se aproximaram do “monte” ouviu-se um ladrar de um cachorro que não teria mais que 3 meses e que rapidamente assomou o focinhito húmido do frio da noite entre os cartões.
O João, que não deixava créditos em mãos alheias e as guloseimas muito menos, rapidamente retirou, do bolso do casaco, um pedaço de chocolate oferecendo-o ao cachorro. Este com o rabito entre as pernas e a cabecita baixa aproximou-se, ganindo baixo, pegou no chocolate e desapareceu com ele entre o monte dos cartões. Tão depressa o cachorro desapareceu como o monte de cartões se agitou fazendo deslocar a neve que se tinha depositado sobre a parte mais exposta. Ouviu-se um choro de bebé e uma voz de criança vindas debaixo do monte.
Rapidamente a família começou a desmontar o monte de cartões e cobertores velhos expondo um homem com a barba por fazer e olhos esbugalhados e duas crianças enroladas em casacos e sacos de plástico que comiam avidamente o chocolate.
Sem perder mais tempo e porque o homem aparentava encontrar-se muito fraco o ajudaram a levantar, pegaram nas crianças e no cachorro e, esquecendo por completo a Missa do Galo, se dirigiram para casa.
Lá chegados depois de aconchegarem os estômagos das crianças e do homem que as acompanhava e de lhes proporcionarem um bom banho quente e roupas lavadas souberam a história triste que os acompanhava. A mãe das crianças tinha falecido há três meses e, ele, o pai das crianças, tinha-se visto forçado a deixar o trabalho para cuidar da mulher e das filhas e tinha perdido o emprego fazia já 8 meses. Desde essa data viviam na rua à mercê da caridade dos outros.
- Já quase não me lembrava o que era uma refeição quente e muito menos um banho e roupa lavada.  – Comentou o homem quando lhe disseram que essa noite e o dia de Natal ficariam lá em casa com os filhos, num anexo que existia no quintal, com cozinha, um quarto e 1 WC. E que após o Natal iriam tentar encontrar uma solução.
O João assistiu a tudo num misto de espanto e entusiasmo. Quando por fim se foram deitar, já seriam talvez umas 2horas e 30 minutos da manhã, o João, deitado na sua cama e com os olhitos a querem fechar-se, disse:
- Mamã este Natal foi difente! O senhor pobezinho tinha fome e os mininos também. Amanhã eu dou uma penda pa eles!

Um Feliz Natal para Todos com muito Amor e Paz.
By Fernanda Paixão

...... Porque Natal é quando uma mulher quizer deixo o conto que foi publicado na revista Studiobox, do Bruno Esteves (Viseu) ...