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domingo, 8 de maio de 2016

Corre-me a água debaixo dos pés



Corre-me a água debaixo dos pés,
Pardacenta, quase barro
Agitada e barulhenta, imparável; virulenta.
Carrega restos de bocas abertas,
De ócio de mentes desertas
De palavras feitas fel, falsidades cobertas de mel.
Corre-me a água debaixo dos pés
Torrente que me arranca a pele,
Deixo que corra.
Que siga por onde quer ir,
Que me fira, se tiver que ferir.
Já não bracejo.
Não luto com fé,
Tento apenas manter-me de pé.
E se a maré tiver que subir,
Resta-me a ela não sucumbir.
Corre-me a água debaixo dos pés
Leva com ela a fúria das gentes
Transporta no leito, de sulco profundo
As mãos agitadas do ímpio do mundo
Corre-me a água debaixo dos pés
Vai cega e sedenta pro seu arraial
Arrasta com ela os corpos do mal
Ceifando as vidas de gente inocente
Por puro deleite, é-lhe indiferente!  
Corre-me a água debaixo dos pés
Carrega com ela o vinho da ira
O sangue dos corpos que o falso carpira
Corre-me a água debaixo dos pés,
Deixo que corra e que me fira
Resisto à maré que as pedras revira
Corre-me a água debaixo dos pés


Fernanda Paixão

07/05/2016

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Morremos porque sim



Às vezes morremos porque sim.
Outras vezes morremos sem querer.
E há aquelas vezes em que nos matam
Porque nos fazem doer.
A dor que doí não é a dor de morte.
A dor que doí é a dor da fraca sorte,
a dor de lentamente morrer,
de sempre dar e nada receber.
A dor que doí é a premeditação da morte infundada,
da vida incompleta pela maldade ceifada
É a dor da injustiça e das vozes caladas
É a dor que se gera nas costas voltadas
A dor que dói é da ausência de carinho
A dor que doí, doí devagarinho
Às vezes morremos porque sim.
Outras vezes morremos sem querer.
E há aquelas vezes em que nos matam
Porque nos fazem doer.




Fernanda Paixão

30/Abril/2016

domingo, 1 de maio de 2016

Para Ti Mãe





Habita em mim parte de ti
Parte do que cresceste no meu eu
Parte do que foste e do que serás
do que me deste e do que me darás.

Habitas nos meus sorrisos e nas minhas lágrimas
No meu medo e nas minhas fráguas
Habitas no sangue que me corre nas veias
E nos sonhos que às vezes permeias.

E no regaço, que um dia foi meu
Perdura o amor que foi sempre teu.

E os afagos que ainda me dás
E os beijos, ainda que distantes
Sufragam um Amor maior que o de antes.

No teu olhar às vezes tão triste
Encontro o amor que a tudo resiste.

MÃE, habita em mim parte de ti
Parte do que foste, do que és por mim.

Fernanda Paixão
01/05/2016